
Por Camila Mazzanti
Dentre as angústias psíquicas da vida moderna a ansiedade ganha grande destaque. Caracterizada por um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão e tensão, a ansiedade é normal e parte constituinte de todos os seres humanos, já que evolutivamente tem a função de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho, sempre visando à sobrevivência. Porém quando a reação ao estímulo é desproporcional e exagerada, interferindo na qualidade de vida, essa ansiedade é considerada patológica.
As síndromes ansiosas são os transtornos psiquiátricos mais comuns e podem ser classificadas em dois grandes grupos: quadros em que a ansiedade é constante e permanente (ansiedade generalizada) e quadros em que há crises de ansiedade abruptas, chamadas crises de pânico.
Em uma crise de pânico, ocorre relevante descarga do sistema nervoso autônomo e podem ocorrer sintomas como: suor frio, taquicardia, tremores, sensação de asfixia, náusea, formigamentos dos membros e o medo da morte costuma estar presente, devido aos desagradáveis sintomas.
Para exemplificar, eis aqui um relato de uma crise de pânico:
“A pessoa está bem e sem maiores preocupações, quando percebe algo indefinido mas claramente ameaçador. Uma sensação inesperada de falta de ar, tonteira, balanço, flutuação ou alteração da percepção visual, prenunciam iminente risco de vida, perda da razão ou de consciência, o que nunca ocorre. … As mãos gelam e ficam úmidas, o coração acelera e bate forte, a respiração fica difícil, rápida e não satisfaz, como se o ar não atingisse a profundidade dos pulmões, como se houvesse iminente sufocação. O medo e a ansiedade são crescentes, acompanhados da certeza de que algo estranho e muito grave está acontecendo. Formigam as extremidades ou o couro cabeludo, adormecem os lábios… Ondas de calor ou frio e sudorese são freqüentes, inclusive em ondas subindo das coxas para a cabeça.
É possível ter ataques de pânico e não ter a síndrome do pânico, uma pesquisa americana mostra dados de que 23% da população já teve pelo menos um ataque de pânico durante a vida, mas somente 1% da população é diagnosticada com a síndrome. Isso ocorre, pois, para ser diagnosticado com a síndrome os ataques de pânico precisam ser recorrentes e espontâneos, ou seja, acontecem de maneira inesperada e com certa frequência, o que gera medo de um novo ataque e prejudica consideravelmente a vida do indivíduo.
Existe uma característica muito peculiar em relação a síndrome, ela sempre está associada com outro tipo de transtorno psiquiátrico, fato chamado de “comorbidade”. Então, além de ter de lidar com os percalços de uma questão psiquiátrica, os ataques de pânico agravam ainda mais o quadro.
Analisando sob uma perspectiva da saúde, a síndrome do pânico hoje é considerada um problema de saúde pública, devido a intensidade dos sintomas é comum que quem sofre da síndrome seja um frequentador voraz dos órgãos de saúde, gerando gastos desnecessários com exames e procedimentos. Portanto é importante que os funcionários da instituição estejam familiarizados com a síndrome, dando as orientações adequadas ao paciente.
Como formas de manejo é importante a tranquilização do paciente, informando-o que seus sintomas são advindos de um ataque de ansiedade, não apresentando risco de morte. É importante validar o que ele sente, dizendo que você entende o quanto é desagradável passar por esse tipo de crise, mas que em no máximo 30 min ela deve passar.
Técnicas de respiração podem ajudar o paciente a não hiperventilar e a se acalmar, oriente ele a respirar pelo nariz, sempre controlando a frequência das respirações. Pode-se instruir o paciente a deitar, utilizando-se de técnicas de relaxamento, porém se a crise for muito intensa é recomendado o uso de medicação.
Existem três formas de tratamento, o psicofarmacológico (somente medicação), o psicoterapêutico (somente psicoterapia) e o combinado (medicação + psicoterapia). É necessário a consulta de profissionais para melhor avaliar cada caso, porém se já foi avaliado que a medicação é necessária, fazer a psicoterapia junto traria grandes benefícios ao paciente.
Como conteúdo extra, disponibilizaremos os critérios diagnósticos do DSM V (Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais)
DSMV
A. São necessários os critérios 1 e 2:
1. Ataques de pânico recorrentes e espontâneos (inesperados).
2. Pelo menos um ataque foi seguido, durante um mês ou mais, das seguintes características:
a) preocupação persistente em relação a ataques adicionais;
b) preocupação em relação às implicações do ataque ou às suas consequências (perder o controle, ter um ataque cardíaco, enlouquecer, etc.);
c) alteração significativa do comportamento relacionada às crises de pânico.
B. Deve-se especificar se há ou não agorafobia associada.
C. Os ataques de pânico não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por exemplo, abuso de droga ou medicamento) ou a uma condição médica geral (por exemplo, hipertireoidismo).
D. Os ataques de pânico não são mais bem explicados por outro transtorno mental como fobia social (que ocorre, por exemplo, em situações de exposição a eventos sociais, como falar em público), fobia específica (por exemplo, na presença de um animal específico), transtorno obsessivo compulsivo (por exemplo, quando exposto à sujeira), transtorno de estresse pós-traumático ou transtorno de ansiedade de separação (por exemplo, em crianças, em resposta a estar afastado do lar).
Referencias Bibliográficas
PATUTTI, Cicera Andrea Oliveira Brito. Transtorno de panico e ideação suicida: características de personalidade por meio do teste de Pfister. 2004. 153p. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciencias Medicas, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/311689>. Acesso em: 3 ago. 2018.
SALUM, Giovanni Abrahão; BLAYA, Carolina; MANFRO, Gisele Gus. Transtorno do pânico. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rprs/v31n2/v31n2a02>. Acesso em: 08 mar. 2019.
DELGALARRONDO, Paulo. Síndromes Ansiosas. In: DELGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. São Paulo: Artmed, 2008. Cap. 26. p. 304-306.