
Por Camila Mazzanti
Quando pensamos em saúde, costumamos pensar em todo o aparato tecnológico da nova medicina e o como isso está colaborando para que a longevidade da vida aumente, porém saúde não abarca só o nosso físico, mas sim um conjunto de físico, psíquico e social. A OMS (organização mundial da saúde) define a saúde como “bem estar biopsicosocial”, pois o homem é um ser integral, constituído de várias partes, e não somente de um corpo.
No contexto em que vivemos, a tecnologia contribui e muito para uma melhora significativa das práticas médicas, mas, ao mesmo tempo, nunca foi tão grande o número de enfermidades do âmbito psíquico. A saúde mental está extremamente fragilizada, o que levou a ciência a voltar o olhar para questões do imaterial, do inexplicável, do sobrenatural, fugindo de concepções tão fortemente enraizadas que dizem que esse tipo de assunto não deve ser estudado.
A religiosidade ganhou espaço dentro da área da saúde, se mostrando um recurso de peso para o enfrentamento de enfermidades, ela dá voz ao subjetivo do humano, manifestando-se como experiência simbólica de sagrado do ser. A palavra religiosidade vem do latim religio pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular). O religare é a conexão com o sagrado que cada ser carrega dentro de si.
Se faz necessária a diferenciação de Religião e Religiosidade; Religião refere-se ao aspecto institucional e doutrinário, abarca um conjunto de práticas, ritos e dogmas entendidos como meios que oferecem a salvação. A religiosidade/espiritualidade é o contato íntimo com algo que transcende, é a experimentação de uma força interior que supera as próprias capacidades. Então na religião você frequenta um local, faz parte dos ritos, conta com a companhia de outros membros participantes da cerimônia e está vinculado às regras da instituição religiosa, na religiosidade, a experiência é simbólica e subjetiva, ou seja, vivenciada dentro de você. É possível ter religiosidade dentro de uma instituição e é possível ter fora dela.
Notando a importância dessa instância na qualidade de vida a OMS, em 1988, incluiu a dimensão espiritual no conceito multidimensional de saúde, remetendo a questões como significado e sentido da vida, e não se limitando a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa. Para ela, a espiritualidade é o conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material, com a suposição de que há mais no viver do que pode ser percebido ou plenamente compreendido.
A religiosidade influencia diretamente na forma como o sujeito interpreta situações e também no seu modo de agir sobre elas, portanto pode ser entendida como uma estratégia de coping (enfrentamento).
O coping pode ser definido como o conjunto de estratégias utilizadas por uma pessoa para se adaptar a circunstâncias de vida adversas ou estressantes, é uma “busca por significado em tempos de estresse”, “um processo através do qual os indivíduos procuram entender e lidar com as demandas significantes de suas vidas”. A religiosidade pode proporcionar à pessoa maior aceitação, firmeza e adaptação a situações difíceis de vida, gerando paz, autoconfiança e perdão, e uma imagem positiva de si mesmo.
Uma grande questão é a busca pela religiosidade, que é algo muito individual e subjetivo. As instituições religiosas podem auxiliar nesse processo, porém é sempre algo que deve ser experienciado individualmente e a crença religiosa, por mais que tenha a intenção de ajudar nessa “viagem” de busca da espiritualidade pode acabar por influenciar negativamente a experiência, gerando culpa, dúvida, ansiedade e aumento a autocrítica.
Religiões podem tanto orientar a pessoa de maneira rígida e inflexível, desestimulando a busca de cuidados médicos, como podem ajudá-la a integrar-se a uma comunidade e motivá-la para o tratamento, portanto é necessário muita reflexão interna, para que a prática religiosa não se torne algo cego e irracional, mas sim um apoio que oferece acalento e ajuda nas horas de necessidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
STROPPA, André; MOREIRA-ALMEIDA, Alexander. RELIGIOSIDADE E SAÚDE. 2008. Disponível em: <http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/M_autores/MOREIRA-ALMEIDA_Alexander_et_STROPPA_Andre_tit_Religiosidade_e_Saude.pdf>. Acesso em: 03 maio 2019.
ARAUJO, Maria Fátima Maciel et al. O PAPEL DA RELIGIOSIDADE NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO IDOSO. 2008. Disponível em: <file:///C:/Users/camil/Downloads/584-6582-1-PB.pdf>. Acesso em: 03 maio 2019.
Regina de Oliveira, Márcia, Junges, José Roque, Saúde mental e espiritualidade/religiosidade: a visão de psicólogos. Estudos de Psicologia [en linea] 2012, 17 (Septiembre-Diciembre) : [Fecha de consulta: 3 de mayo de 2019] Disponible en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26125519016> ISSN 1413-294X