
Por Camila Mazzanti
A vida, em toda sua dinamicidade, sempre surpreende com suas novas empreitadas e desafios. É durante os momentos difíceis que podemos avaliar nossas capacidades de enfrentamento. Cada um à sua maneira vai perpassar o desafio, uns com mais adaptação, outros não.
O que caracteriza então, duas pessoas, que passaram pela mesma adversidade, sendo que uma se desorganizou e sofreu rupturas traumáticas e outra conseguiu retornar ao seu habitual padrão de funcionamento sem grandes prejuízos psíquicos?
Existem estudos que acompanham o desenvolvimento de crianças que, apesar de prolongados períodos de adversidades e estresse psicológico, apresentavam saúde emocional e alta competência. Ao crescerem tornaram-se adultos competentes capazes de amar, trabalhar, brincar/divertir-se e ter expectativas. Esse componente adicional que essas crianças tinham, que as permitia manter a saúde emocional mesmo diante de inúmeras adversidades foi nomeado de resiliência.
O termo resiliência originou-se da física e engenharia. Um material é denominado resiliente quando a energia de deformação máxima que ele é capaz de armazenar não gera nele deformações permanentes. Na psicologia ainda não há consenso na definição do termo, no entanto é possível fazer uma analogia em relação tensão/ pressão com deformação não-permanente do material que corresponderia à situação que ocorre entre uma situação de risco/ estresse/ experiências adversas/ respostas finais de adaptação.
O estudo do fenômeno da resiliência na psicologia é relativamente recente. Sua definição não é clara e nem poderia sê-lo, haja vista a complexidade e multiplicidade de fatores e variáveis que devem ser levados em conta no estudo dos fenômenos humanos. Uma das discutidas definições de resiliência seria : “uma capacidade universal que possibilita a pessoa, grupo ou comunidade prevenir, minimizar ou superar os efeitos nocivos das adversidades, inclusive saindo dessas situações fortalecida ou até mesmo transformada, porém não ilesa.”
A resiliência apesar de ser uma fantástica capacidade, não pode ser considerada um “escudo” que protege o indivíduo de todas as adversidades. Não existe uma pessoa resiliente e sim uma pessoa que está resiliente.
Na vida, passamos por diversas situações que se deve ser resiliente, mas a doença é particularmente impactante. Nesse contexto a resiliência seria a capacidade de lidar com a doença e suas limitações impostas, colaborando com aderência ao tratamento e readaptando-se de forma positiva.
A metáfora da ostra bem explica o que é o processo de resiliência. A ostra para proteger-se do grão de areia que a fere, envolve de nácar o intruso, arredondando as asperezas, dando origem a uma pérola, uma bela jóia preciosa. Assim ocorre com o indivíduo: quando se defronta com uma situação adversa, ao tomar atitudes resilientes, sai da situação mais fortalecido e belo do que era antes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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