
A gratidão é comumente mencionada no contexto religioso, porém, o artigo de hoje propõe pensar a gratidão de outras maneiras, que podem ser adicionadas ao que já se sabe sobre ela.
Estudos feitos com primatas sugerem que a gratidão faça parte do arcabouço genético dos seres humanos. Ela pode ser observada, de forma mais rudimentar, também em outros animais que vivem em grupo.
Com relação a observações feitas com seres humanos, conclui-se que a gratidão não é inata ao ser (pois não pode ser observada em recém nascidos e crianças pequenas), porém, pode ser aprendida e desenvolvida. Geralmente é algo que aprendemos quando crianças, mediante interação social e educação dos cuidadores.
De um ponto de vista evolucionista, a gratidão é uma habilidade adquirida que auxilia a vida em sociedade, tem a função de promover e manter relacionamentos, ou seja, é um regulador social.
Para que se concretize, a gratidão pressupõe: a apreciação do favor recebido; sentimentos positivos dirigidos ao benfeitor; reconhecimento do custo da ação para o benfeitor (essa ação demanda algo do benfeitor); atribuição de intenção ao benfeitor (pois não se pode sentir gratidão por atos não intencionais).
Todo esse encadeamento de acontecimentos gera no beneficiário (pessoa que recebeu a ação do benfeitor) a gratidão pela ação recebida, gratidão ao benfeitor e uma espécie de sensação de “dívida”, uma vontade de retribuir o favor. Quando o favor é retribuído, o ciclo que regula as relações sociais se completa, gerando uma sensação de bem estar que incita a pessoa a continuar a fazer boas ações.
Outros estudos perceberam que a regulação social e um “ciclo do bem” não são os únicos benefícios da gratidão, além de aumentar a resiliência, a saúde física e a qualidade da vida diária, pessoas gratas tender a ver a vida através do viés da gratidão, acreditando mais na boa intenção das pessoas (e não em atitudes egoístas), são mais empáticas e mais propensas ao perdão. Pessoas gratas estão mais inclinadas a buscar apoio emocional e instrumental e a abordar problemas, ou seja, enfrentam situações ao invés de evitá-las, tornando-se pessoas mais resilientes.
Conclui-se então que a gratidão contribui veementemente para estados mentais mais positivos dos humanos, alimentando um ciclo do bem, que cresce cada vez mais. Fica aqui a proposta ao leitor refletir que, nesse caso, religiosidade e ciência não se opõem, apenas se complementam.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PIETA, Maria Adélia Minghelli; FREITAS, Lia Beatriz de Lucca. Sobre a gratidão. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro , v. 61, n. 1, p. 100-108, abr. 2009 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672009000100010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 16 abr. 2019.
FREITAS, Lia Beatriz de Lucca; SILVEIRA, Paula Grazziotin; PIETA, Maria Adélia Minghelli. Um estudo sobre o desenvolvimento da gratidão na infância. Interam. j. psychol., Porto Alegre , v. 43, n. 1, p. 49-56, abr. 2009 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-96902009000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 abr. 2019.