
Todos nós (exceto raras exceções) já sentimos um nó na garganta ao pensar em falar em público, ou suor frio escorrendo pelas costas enquanto aguarda uma entrevista de emprego. As bochechas vermelhas de vergonha ao falar algo que talvez não tenha a aprovação das pessoas ao redor, ou então, o sentimento de ser completamente incapaz de dizer o que sente a aquela pessoa especial, afinal o “fora” seria terrível…
A timidez parece algo tão comum que não paramos para pensar nela com grande frequência. Os sentimentos de uma pessoa tímida dificilmente são conhecidos e expressados, fazendo com que os(a) tímidos(a) sejam facilmente incompreendidos e deixados de lado.
Não existe uma definição exata de timidez e ela não se manifesta da mesma forma para todas as pessoas, afinal, o mundo interior de cada um é extremamente subjetivo, no entanto, alguns autores tentaram propor definições para a timidez de forma a contribuir com os estudos dessa área.
Axia (2003) compreende a timidez, pelo ponto de vista biológico e a define como uma propensão a sentir muito medo na presença de pessoas e situações sociais não conhecidas. Considera a timidez como uma variante normal da condição humana e que possui um forte valor de sobrevivência em determinadas circunstâncias.
Silva (2011), observa que a timidez pode ser identificada pelo desconforto e pelas inibições percebidas no comportamento das pessoas ao se encontrarem na presença de outras. Como inibição do comportamento, entende-se a timidez que pode ser observada na quietude, no afastamento das pessoas e/ou de ambientes agitados ou estimulantes. Ficam inibidas ou retraídas ao experimentar o novo, especialmente em situações sociais não familiares que, para elas, são eventos imprevisíveis e incontroláveis. São pessoas que se preocupam de maneira excessiva com seu desempenho social e com o julgamento que as outras pessoas possam fazer de seu comportamento.
O problema é que a sensação de medo que a pessoa tímida vivência não pode ser apenas ignorada ou posta de lado, como alguns manuais sobre timidez acreditam, pois este medo está arraigado na consciência e faz com que a pessoa tímida tenha uma percepção penosa de si, no momento em que menos gostaria de prestar atenção em si mesma e em suas emoções. Os tímidos são pessoas emotivas que vivem com grande intensidade as emoções de base, como o medo e a raiva. São pessoas que percebem com mais força as emoções ligadas aos fracassos sociais, como o embaraço e a vergonha.
É possível relacionar, no que se refere às situações de timidez, ou à dificuldade de exposição em três categorias: falta de coragem, falta de humildade e falta de verdade.
A falta de coragem agrupa sentimentos de menos valia e situações de comparação. É o medo de ser como se é, que se manifesta em uma dificuldade de enfrentar os outros e mostrar seu próprio valor. Avaliar-se em relação aos demais gera ansiedade e frustração, enquanto duvidar de seu valor torna mais difícil se expor.
A falta de humildade se refere à crença de não poder errar, pois o erro representa uma ameaça e uma fonte de ansiedade e sofrimento. Esta crença se apoia no medo de ser considerado incompetente e incapaz, o que se traduz em uma busca excessiva de perfeição (perfeccionismo) e autoexigência, aliada a uma dificuldade de aceitar erros e dificuldades pessoais. O perfeccionista deixa de se expressar de forma espontânea quando nega a possibilidade de errar.
A falta de verdade se pauta na necessidade de criar uma imagem adequada e no medo de ser verdadeiro e não ser aceito por seu próprio valor. Neste caso, o tímido se prende mais à forma e à aparência do que ao conteúdo, buscando desempenhar papéis estudados, sem espontaneidade. São pessoas que aprenderam a não se posicionar, agir com diplomacia e ter jogo de cintura. A vaidade nasce da preocupação constante em manter atitudes estudadas e da crença de que é perigoso se portar de forma autêntica. Por temer se expor e ter sua imagem abalada, elimina de suas falas os conteúdos que considera comprometedores.
A timidez e a ansiedade correlacionam-se por terem em comum o “medo”. Uma forma de neutralização desse sentimento, de acordo com os estudos, é o enfrentamento dos medos. Essa forma de combate à timidez parece algo extremamente penoso à pessoa tímida, assim como correr em direção ao objeto da sua fobia, no entanto ela é necessária. Para superar a ansiedade e os transtornos de ansiedade é fundamental compreender o papel que eles exercem na vida. É necessário, então, distanciar-se dos medos e alterar a perspectiva de forma a deixar de ser punido pela própria mente; isto porque, o “nível de medo não é determinado pela situação em que se encontra, mas por sua interpretação dela. Quando a interpretação muda, muda também toda sua sensação sobre o que causa medo e sobre o que não causa”.
Às pessoas que desejam tentar superar sua timidez é recomendado procurar ajuda de um psicólogo que auxiliará nesse processo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AXIA, Giovanna. A timidez: um dote precioso do patrimônio genético humano. São Paulo, SP: Paulinas: Loyola, 2003. (Coleção para saber mais; 3)
ESTEVES, Ana L. A timidez na perspectiva da Psicologia Analítica. 2012. 119 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.
MASCARENHAS, Denise. Da timidez à expressão de si mesmo. Belo Horizonte, MG: Editora Leitura, 2007.