
Por Camila Mazzanti
Por muito tempo adotou-se a concepção teórica de que corpo e mente são entidades separadas, porém fica cada vez mais difícil negar a influência e interação entre ambas. A partir do momento em que a saúde começou a considerar o ser humano como integral, ou seja, com as instâncias biológicas, psicológicas e sociais como indissociáveis, a saúde e doença começaram a ser ampliadas.
A psicossomática surge através da percepção de que pacientes, manifestavam no corpo algum conflito que a mente não conseguiu traduzir em linguagem. Hoje sabe-se com mais empiricidade que os estados psíquicos como estresse, depressão, ansiedade, medo, raiva, etc, favorecem o desenvolvimento e/ou a manifestação de doenças orgânicas como úlceras, colites, problemas cardíacos, alergias, doenças da pele e até mesmo o câncer.
No fenômeno psicossomático o corpo pode ser afetado em sua realidade funcional e orgânica, ou seja, se forem feitos exames, a lesão estará lá presente. Um exemplo ilustrativo seria a urticária de origem emocional, do qual o paciente toma medicações que não resolvem o problema, outro exemplo seria o desenvolvimento de doenças mais graves devido a conflitos psíquicos fortemente internalizados.
A doença pode servir como a linguagem que o organismo se dispõe para sinalizar que algo sério está ocorrendo com o indivíduo. Retomando o exemplo acima, imaginemos que uma criança, vivendo a separação dos pais, começa a manifestar o quadro de urticária emocional. Os pais que antes viviam em guerra, agora são obrigados a se voltar diante dessa criança para cuidar dela. A doença aqui, além de expurgar os sentimentos vividos por essa criança para o corpo, ainda tem a função de chamar a atenção dos pais para algo mais importante que a separação deles…
Como dito acima existem somatizações que afetam o biológico em seu real, porém, nem toda somatização afeta o orgânico da mesma forma, por exemplo uma manifestação histérica não afeta o real do corpo (nos exames não há confirmações biológicas do sintomas), embora possa cegar, anestesiar, paralisar e etc.
A psicoterapia trabalha no sentido de entender qual o conflito psíquico que está emergindo no corpo e convertê-lo em linguagem verbal. Da mesma maneira que os sintomas nascem, eles podem desaparecer, se trabalhados corretamente.
A título de curiosidade deixamos ao leitor o mapeamento que o autor Reich (1995) fez em relação às emoções e onde elas podem se manifestar no corpo
Pele e olhos: medo. A expressão de olhos arregalados ou as alergias como, por exemplo, a urticária, quando estamos temerosos ou assustados por algum motivo.
Boca: raiva, característica do bruxismo.
Pescoço: arrogância e o controle. Pessoas narcisistas ou controladoras apresentam um bloqueio nessa região e como manifestação somática encontramos, por exemplo, o torcicolo.
Peito: é a região do afeto e é onde se localizam as emoções do amor e do ódio que quando entram em conflito, trazem a angústia que por sua vez contribui para a manifestação dos problemas cardíacos e pulmonares.
Diafragma: ansiedade, típica de pessoas agitadas, trazendo como manifestações somáticas a gastrite, úlcera, problemas renais, etc.
Abdômen: impulsividade e como manifestação somática a constipação.
Pelve: região do prazer, cujo bloqueio responde pela impotência, frigidez, vaginismo, etc.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁVILA, Lazslo Antonio. Doenças do corpo e doenças da alma: investigação psicossomática psicanalítica. 1995. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica) – Instituto de Psicologia, University of São Paulo, São Paulo, 1995. doi:10.11606/T.47.2018.tde-19042018-103308. Acesso em: 2019-08-13.
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REICH, W. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995 VOLPI, José Henrique. Psicoterapia corporal – Um trajeto histórico de Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2002.