Por Camila Mazzanti
A psicopatia é um tema que gera muita agitação nas mais diversas camadas da sociedade, talvez pela indiferença com que os indivíduos acometidos pelo transtorno transgridem normas culturais, sociais e judiciais. Psicopatas têm uma péssima fama muito explorada pelo mundo cinematográfico.
O conceito de psicopatia surgiu dentro da medicina legal, quando médicos se depararam com o fato de que muitos criminosos agressivos e cruéis não apresentavam os sinais clássicos de insanidade.
Psicopatia é um construto psicológico complexo que envolve múltiplos comportamentos e disposições de personalidade. Esses múltiplos comportamentos e disposições, por sua vez, podem se manifestar em diversos contextos sociais específicos.
No DSMV, o manual que orienta os profissionais da saúde mental, o psicopata encontra-se, dentre os transtornos de personalidade, no cluster B, mais especificamente na personalidade Antissocial. No entanto indivíduos com o transtorno de personalidade antissocial (TPAS) não necessariamente apresentam psicopatia, ou seja, “quem é psicopata é antissocial mas quem é antissocial não necessariamente é psicopata”. Em um estudo que comparou criminosos com diagnóstico de TPAS com e sem psicopatia, verificou-se que a concomitância dos quadros esteve relacionada a comportamentos antissociais mais violentos. Além disso, os indivíduos com psicopatia apresentaram menor facilitação emocional em uma tarefa de decisão léxica, sugerindo déficits no processamento emocional e diferenças cruciais entre esses indivíduos e os demais com TPAS e sem psicopatia.
As características que definem detalhadamente o perfil psicopata foram descritas por Cleckley (1988) em sua obra clássica The mask of sanity. Dentre estas, estão: charme superficial, boa inteligência, ausência de delírios e de outros sinais de pensamento irracional, ausência de nervosismo e de manifestações psiconeuróticas, falta de confiabilidade, deslealdade ou falta de sinceridade, falta de remorso ou pudor e tentativas de suicídio. Comportamento antissocial inadequadamente motivado, capacidades de insight, julgamento fraco, incapacidade de aprender com a experiência, egocentrismo patológico, incapacidade de sentir amor ou afeição, vida sexual impessoal ou pobremente integrada e incapacidade de seguir algum plano de vida também fazem parte dessas características. E ainda: escassez de relações afetivas importantes, comportamento inconveniente ou extravagante após a ingestão de bebidas alcoólicas, ou mesmo sem o uso destas, e insensibilidade geral a relacionamentos. A impulsividade, uma característica importante também presente nos psicopatas, é uma tendência à não inibição de comportamentos de risco, mal adaptados, mal planejados e que são precocemente executados. Ela pode ser hereditária, um traço da personalidade ou, até mesmo, pode ser adquirida por lesão no sistema nervoso central (SNC). Os comportamentos mais comuns, nestes casos, vão desde a incapacidade de planejar o futuro até a ocorrência de atos violentos ou agressivos.
Em relação ao ponto de vista psicodinâmico, ou seja, intrapsíquico, observa-se alterações na estruturação da personalidade, em especial nas questões inerentes ao narcisismo, levando o indivíduo a estabelecer uma relação distorcida e autocentrada com as pessoas, com os afetos e com as normais sociais. Alguns estudos também observaram uma ligeira diferença no lobo pré frontal (responsável pelo comportamento) no cérebro de indivíduos psicopatas.
Assim como no transtorno antissocial o tratamento para pessoas acometidas com a síndrome é muito dificultoso, pois há muitos relatos de manipulação dos membros da equipe de saúde mental (fingem ter “aprendido a lição” para serem soltos e ao conseguirem liberdade retomam suas atividades ilegais).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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