
Por Camila Mazzanti
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais vigente (DSM V) um transtorno de personalidade pode ser caracterizado por “um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo”.
Esses transtornos são divididos em três categorias (clusters) de acordo com características semelhantes. O cluster A engloba os transtornos Paranóide, Esquizóide e Esquizotípico, considerados como padrões “excêntricos ou incomuns” de funcionamento, principalmente no âmbito social. No cluster B estão os transtornos Antissocial, o Borderline, o Histriônico e o Narcisista, que compartilham características de déficit de empatia e comportamento imprevisível. E por último, no cluster C, encontram-se os Transtornos Obsessivo Compulsivos, os Dependentes e os Esquiva, que apresentam alta ansiedade ou medo na interação social.
Neste artigo abordaremos com mais detalhes o transtorno de personalidade Histriônica, constituinte do grupo B. Esse transtorno é caracterizado por um padrão de emocionalidade excessiva e necessidade de chamar atenção para si mesmo, incluindo a procura de aprovação e comportamento inapropriadamente sedutor, normalmente a partir do início da idade adulta. Tais indivíduos são vívidos, dramáticos, animados, flertadores e alternam seus estados entre entusiásticos e pessimistas.
O psiquismo desses pacientes é basicamente dominado pela ansiedade de obtenção de reconhecimento dos outros, de maneira a sentirem-se amados, desejados e valorizados. São manipuladores do seu ambiente, e, muitas vezes, induzem as pessoas próximas a eles a maltratá-los de alguma forma, justificando suas afirmações de que são vítimas do mundo. Apresentam acentuada inconstância e labilidade na manifestação das emoções, pois são extremamente sensíveis a qualquer estímulo afetivo negativo.
São pessoas com baixa tolerância à frustração, utilizam-se conscientemente de forma direta e até dissimulada da sedução; valorizam exacerbadamente o corpo (esta característica pode se manifestar por meio de cuidados estéticos ou pelas conversões e somatizações, que são manifestações de conteúdos psíquicos no corpo, sem razão médica, objeto de pesquisa de Freud em “estudos sobre Histeria”).
Este tipo de transtorno pode atuar de forma concomitante com outros transtornos da personalidade, com mais frequência com o borderline, narcisista, antissocial e dependente. Há uma maior prevalência em mulheres, no entanto alguns estudos usando avaliações estruturadas informam taxas de prevalência similares entre ambos os sexos.
Lembrando que muitos indivíduos podem exibir traços da personalidade histriônica, no entanto esses traços somente constituem o transtorno quando são inflexíveis, mal-adaptativos e persistentes e causam prejuízo funcional ou sofrimento subjetivo significativos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013
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HUBER, P. A. DE M.; MITTERER, I. T.; SEHNEN, S. B. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE HISTRIÔNICA OU TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR? A DÚVIDA NA CONSTRUÇÃO DE UMA HIPÓTESE DIAGNÓSTICA. Unoesc & Ciência – ACBS, v. 5, n. 2, p. 217, 23 out. 2014.