
Por Camila Mazzanti
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais vigente (DSM V) um transtorno de personalidade pode ser caracterizado por “um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo”.
Esses transtornos são divididos em três categorias (clusters) de acordo com características semelhantes. O cluster A engloba os transtornos Paranóide, Esquizóide e Esquizotípico, considerados como padrões “excêntricos ou incomuns” de funcionamento, principalmente no âmbito social. No cluster B estão os transtornos Antissocial, o Borderline, o Histriônico e o Narcisista, que compartilham características de déficit de empatia e comportamento imprevisível. E por último, no cluster C, encontram-se os Transtornos Obsessivo Compulsivos, os Dependentes e os Esquiva, que apresentam alta ansiedade ou medo na interação social.
Neste artigo abordaremos com mais detalhes o transtorno de personalidade Narcisista, constituinte do grupo B. A característica essencial do transtorno da personalidade narcisista é um padrão difuso de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos.
Os sujeitos acometidos por esse transtorno acreditam ser superiores, especiais e únicos, certos de que devem ser tratados como tal. Muitas vezes relatam uma excessiva necessidade de admiração, sendo altamente sensíveis à críticas. Podem apresentar severas perturbações em importantes áreas da vida como no campo do trabalho e das relações interpessoais.
Os homens representam de 50 a 75% dos indivíduos com transtorno. As estimativas da prevalência do transtorno da personalidade narcisista variam de 2 a 16% na população clínica e são menos de 1% da população em geral.
Devido a sua autoestima vulnerável os indivíduos portadores do transtorno são muito sensíveis a críticas e/ou derrotas. Embora não demonstrem abertamente (pois então demonstrariam sua real fragilidade), ficam desolados, magoados e se sentem humilhados, degradados e vazios. Sua reação pode ser de desdém, raiva ou contra-ataque. Essas experiências frequentemente levam a um retraimento social ou a uma aparência de humildade que pode mascarar e proteger a grandiosidade.
As relações interpessoais dessas pessoas são altamente comprometidas devido a sua necessidade de admiração e sua falta de empatia. Embora sejam ambiciosos, o que os leva a grandes realizações, o desempenho pode ser perturbado em virtude da intolerância a críticas ou derrotas. O desempenho profissional pode ser muito baixo refletindo uma relutância para assumir riscos em situações competitivas das quais a derrota é possível.
Este tipo de transtorno pode ocorrer concomitantemente aos transtornos da personalidade histriônica, borderline, antissocial e paranoide. Pode haver também tendências ao abuso de substâncias (principalmente cocaína), anorexia nervosa e a sentimentos paranóides (“todos estão contra mim”).
Pessoas com transtorno de personalidade narcisista raramente procuram terapia e a literatura demonstrou que estes pacientes têm elevado risco de suicídio, o que deve fazer os profissionais dobrarem o cuidado com este tipo de paciente.
Segundo Lowen, os narcisistas não estão em contato com sua própria realidade, pois pensam que são mais do que realmente são. Em relação a uma abordagem terapêutica, inicialmente seria necessária uma boa construção de vínculo, já que o narcisista pode abandonar a qualquer momento se for “desapontado” pelo terapeuta de alguma forma. Após o vínculo, a estratégia seria voltada à fazê-lo entrar em contato com a realidade, colocando reflexões que levem a empatia com os outros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LOWEN, Alexander. Narcisismo: negação do verdadeiro self. São Paulo: Editora Cultrix, 1983
American Psychiatric Association (2000). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (4a ed.). Porto Alegre: Artes Médicas.
Isoppo, G. S. L. (2012). Terapia focada em esquemas de personalidade narcisista: um entendimento a cerca deste transtorno. Monografia (Especialização em Psicologia Clínica) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.