
Por Camila Mazzanti
Como já citado em artigos anteriores desta série, os transtornos de personalidade podem ser caracterizados como comportamentos e padrões internos que se desviam acentuadamente das expectativas da cultura. Esses padrões são difusos e inflexíveis e costumam ter início na adolescência ou no começo da idade adulta, levando o indivíduo a prejuízos em todos os âmbitos da vida e a muito sofrimento para si, e para as pessoas que convivem em seu entorno.
São divididos em três categorias (clusters) de acordo com características semelhantes. O cluster A engloba os transtornos Paranóide, Esquizóide e Esquizotípico, considerados como padrões “excêntricos ou incomuns” de funcionamento, principalmente no âmbito social. No cluster B estão os transtornos Antissocial, o Borderline, o Histriônico e o Narcisista, que compartilham características de déficit de empatia e comportamento imprevisível. E por último, no cluster C, encontram-se os Transtornos Obsessivo Compulsivos, os Dependentes e os Esquiva, que apresentam alta ansiedade ou medo na interação social.
Neste artigo abordaremos com mais detalhes o transtorno de personalidade Borderline, constituinte do grupo B.
O termo “Borderline” foi cunhado por Adolf Stern em 1938, pois percebeu que este tipo de paciente se encontra em uma linha fronteiriça entre a neurose e a psicose, tendo características diagnósticas de ambas as dinâmicas da personalidade. O Transtorno apresenta algumas características centrais como a instabilidade de humor, a impulsividade, a sensação crônica de vazio, as relações interpessoais tempestuosas e instáveis e as ameaças e tentativas de suicídio.
Quem é acometido pelo TPB (transtorno de personalidade Borderline) luta para evitar uma perda ou abandono, real ou imaginário. A possibilidade de abandono o aterroriza e faz com que sofra profundas alterações comportamentais, afetivas e cognitivas, ocasionando também alterações na sua autoimagem.
A pessoa Borderline faz uso constante de um mecanismo de defesa primitivo denominado “splitting” (“divisão”), que pode ser definido como uma polarização entre bons e maus sentimentos, como amor e ódio, aproximação e rejeição, atuando como uma proteção do ego contra ansiedade ou afetos intensos. Porém, ao invés de promover uma proteção real, conduz a um comportamento destrutivo, tumultuando as relações com aqueles que se aproximam tentando ajudar.
O transtorno de personalidade borderline é de difícil diagnóstico, tanto por ser complexo, como por apresentar diversas comorbidades com outros transtornos da personalidade, do humor (depressão, ansiedade, etc) e também com uso de álcool e drogas. Há altas taxas de suicídio e comportamento automutilante (arranhões, batidas com a cabeça, asfixia, cortes e outros)
Esses pacientes precisam de um profissional que forneça constante, contínua e enérgica força em suas vidas; que possa se dispor a ouvir e ajudar sendo o “alvo” da sua agressividade e idealização enquanto impõe limites de forma firme e franca. O primeiro passo na aproximação terapêutica desses pacientes é ajudá-los a se tornarem conscientes da intensidade desses sentimentos, sendo esse passo um grande desafio ao terapeuta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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