A morte é o estágio final do desenvolvimento humano, sendo tão natural como o nascer, todavia, esse assunto ainda causa tremendo mal estar.

Sob o ponto de vista biológico a morte é conceituada como o fim das atividades vitais do indivíduo, na medicina vigente, a cessação da atividade cerebral. Porém é necessário considerar, além do aspecto puramente anatômico, que a morte é um fenômeno progressivo com implicações psicológicas e sociais tanto para o indivíduo quanto para aqueles ao seu redor.

As emoções evocadas a partir da morte são chamadas de luto, uma experiência que evidencia a inevitabilidade e irreversibilidade da morte, relembrando-nos de nossa condição mortal. Esse processo nos obriga a entrar em contato com muitas angústias, o que torna natural o movimento humano de evitação desses sentimentos e até a própria evitação da morte.

O avanço da medicina propiciou uma  mudança no aspecto cultural da morte, o que anteriormente acontecia no conforto da casa da indivíduo, com seus familiares ao redor agora acontece em um ambiente cheio de desconhecidos, máquinas, tubos acoplados, restrições alimentares e comida insossa – o hospital. Essas características do hospital contribuem para uma despersonalização do paciente que deixa de ter o próprio nome e passa a ser um número de  leito  ou  então  alguém  que  porta  determinada  patologia.             É controverso que a instituição que tem todos os recursos para lutar pela vida do paciente seja a que mais o desumaniza nesse processo.

Toda a mecanização do hospital contribui ainda mais para uma vivência de luto distante e superficial o que não ocorria nos tempos antigos, quando se morria em casa em um longo processo de despedida dos amigos e família, nem mesmo as crianças eram deixadas de fora. O contato com a morte era natural, progressivo e real.

A modernidade, num geral, não tolera o sofrimento e o associa à baixa produtividade e a falta de capacidade para lidar com seus sentimentos. Quanto aos enlutados, é preciso que lhes seja permitido viver e ressignificar a dor da perda, o que é violentamente vetado pela sociedade ocidental contemporânea, com baixa tolerância às expressões vinculadas à tristeza, frustração e perda.

Até quando vamos evitar falar de morte? Vamos negar e evitar o processo natural de finitude até que aconteça conosco? Vamos esconder a verdade de crianças falando que “mais uma estrela chegou ao céu”? Temos que colocar em mente que é natural que o luto seja um sentimento incômodo, uma pessoa muito querida não está mais neste mundo e isso dói. Precisamos aceitar que cada um vai levar o tempo que for necessário para elaborar essa perda e quanto mais se nega, mais a angústia vai se perpetuar.

Referências Bibliográficas

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