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Por Camila Mazzanti

Já falamos sobre o mito, sobre a jornada do herói e agora adentramos um pouco mais a fundo em nosso estudo, analisando os aspectos do feminino dentro dos contos de fada e narrativas contemporâneas em geral.

Jung abordou aspectos psíquicos do masculino e feminino ao falar de animus e anima. São estruturas da psique objetiva que assumem a imagem do sexo oposto do indivíduo, exemplo, dentro da psique de um homem existe a anima, pois ele já é o animus, e vice e versa. A anima, alimentada pelo arquétipo geral da grande mãe e também por experiências pessoais do indivíduo, personifica todas as tendências psicológicas femininas do homem.

O arquétipo geral da grande mãe é referência para figuras de feminino simbolizando o eterno ventre, fertilidade, abundância, entidade protetora e alimentadora de toda forma de vida, inclusive do homem, a Grande Mãe reina sobre o mundo animal e comanda o crescimento vegetativo, “um mundo de contínuas transformações – um mundo primordial com infinitos ciclos de nascimento e morte.

É interessante pensar na progressão histórica das princesas da Disney e na forma em como cada uma delas representa o feminino cultural de sua época, demonstrando que esse conceito está em constante evolução. Se analisarmos os filmes Branca de Neve, Cinderella e Bela Adormecida em contraponto com Mulan, Valente e Frozen, vemos que inicialmente as princesas representavam figuras de um feminino dependente, frágil e ingênuo, enquanto as princesas contemporâneas são exímias heroínas ao invés de serem salvas, salvam a todos.

As princesas de épocas mais antigas refletem em demasia o arquétipo da donzela, simbolizado por beleza, delicadeza e passividade, que era a concepção que se tinha de feminino na época. Progressivamente as princesas posteriores foram se apropriando de outros arquétipos, como o do andarilho(a), da guerreira e principalmente do herói/heroína, o que concebeu às novas princesas características mais ativas e independentes em suas histórias.

Paralelamente a isso, no mundo real,  mulheres batalham para se apropriar de espaços que antes não lhes eram permitidos, reorganizando as formas de organização social e naturalmente esse movimento foi passado aos contos, que sempre refletem aspectos do inconsciente coletivo, a biblioteca das experiências humanas.

O feminino, arquetipicamente, representa a capacidade de amar, sensibilidade à natureza, intuições proféticas, facilidade de acesso ao inconsciente, criatividade, humores e sentimentos instáveis, pois é ligado ao lado da vida que não pode ser racionalizado. Esse feminino é perfeitamente representado na Jornada de Moana, a mais nova princesa da Disney, que têm ações extremamente intuitivas em toda a sua jornada, têm facilidade para entrar em contato com o inconsciente (simbolizado pela água) e também com o inconsciente coletivo (representado pelos ancestrais).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LOPES, Karine Elisa Luchtemberg dos Santos. ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO ESTEREÓTIPO DAS PRINCESAS DISNEY.2015. Disponível em: <https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/235/7620>. Acesso em: 04 jul. 2019.

A Maspoli de Araújo Gomes & V Ponstinnicoff De Almeida (2007): “O Mito de Lilith e a Integração do Feminino na Sociedade Contemporânea”. Âncora. Revista Digital de Estudos em Religiâo, (2).

JUNG, Carl Gustav. O homem e seus Símbolos. 3. ed. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2016.