O ciúme, considerado um fenômeno universal, é um tema antigo e recorrente nos discursos sobre relacionamentos humanos.
As crenças que cada um tem a respeito do ciúme influenciam suas experiências em relação a ele, é por isso que algumas pessoas acreditam que ter ciúmes é demonstração de amor e outras se sentem invadidas em sua privacidade.
A manifestação dessa afirmação pode ser exemplificada também em dimensões culturais, como por exemplo, para o povo norte americano, (fortemente influenciado pela postura liberal, de não intervenção nos assuntos alheios e engajado na proteção dos direitos individuais) o ciúme é um defeito, uma vergonha e deve ser eliminado. Já o povo latino, com toda a sua passionalidade, entende o ciúme como demonstração de amor, cuidado e zelo.
O ciúmes é sempre relacionado ao sentimento de posse e envolve uma triangulação (pessoa ciumenta que tem ciúmes de fulano A com fulano B).O ciumento sofre em demasiado e faz sofrer a pessoa que lhe provoca o ciúme, pois está em constante busca de evidências e confissões que confirmem as suspeitas da infidelidade do parceiro, mas ainda que a honestidade seja confirmada e reafirmada diversas vezes pelo companheiro, essa inquisição permanente se retroalimenta e ainda traz ainda mais dúvidas ao invés de paz.
Ou seja, a confissão do companheiro nunca é suficiente pois o ciúme é uma expressão de dependência, insegurança e medo da perda. Quanto mais baixa a auto estima, mais drasticamente o ciumento sofre.
Nos relacionamentos contemporâneos monogâmicos a confiança possui um papel chave de “proteção” da relação. Confiando, você sabe que não perderá aquela pessoa, portanto não sente ciúme. Sem esse sentimento, o indivíduo se sente vulnerável diante do cotidiano (pois existe a constante ameaça de perda).
De acordo com Baumann o descarte da relação, em busca de outra que dê mais satisfação, prazer e menos esforço é uma possibilidade cada vez maior entre os casais, pois as relações refletem uma lógica de consumista de mercado no qual sempre existe um “produto” mais atrativo que o atual. A construção da confiança, elemento essencial para a manutenção das relações, exige: compromisso mútuo, dedicação e saúde psicológica de ambos os parceiros e nem todos estão dispostos a pagar esse preço.
Essa “ameaça” de perda da outra parte integrante do relacionamento pode ser real, mas em grande parte das vezes é advinda do imaginário do ciumento.
“A pessoa ciumenta é uma meticulosa pensadora no sentido de ruminar pequenos detalhes, de reparar nas menores inflexões no tom da voz ou mesmo de atentar a palavras que indiquem atos falhos para o parceiro e, dessa maneira, fica armada e pronta a conjectura. Assim quanto mais ciúme mais método, mais rigor, mais engenhosa a reflexão” (ALMEIDA, 2008)
Portanto antes de esbravejar ciúme, reflita: como anda a sua auto estima? Como anda a confiança nesse relacionamento? Pois agora você sabe que sem essas duas, a relação se torna insustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Baroncelli, Lauane, AMOR E CIÚME NA CONTEMPORANEIDADE: REFLEXÕES PSICOSSOCIOLÓGICAS. Psicologia & Sociedade [en linea] 2011, 23 (Enero-Abril) : [Fecha de consulta: 2 de abril de 2019] Disponible en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=309326567009> ISSN 0102-7182
de Almeida, Thiago, Beal Rodrigues, Kátia Regina, da Silva, Ailton Amélio, O ciúme romântico e os relacionamentos amorosos heterossexuais contemporâneos. Estudos de Psicologia [en linea] 2008, 13 (janeiro-abril) : [Fecha de consulta: 2 de abril de 2019] Disponible en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26113110> ISSN 1413-294X
SANTOS, Eduardo Ferreira. Ciúme: O medo da perda. 3. ed. São Paulo: Claridade, 2011. 256 p.